Não é segredo que o Brasil, vez após vez, é apontado na mídia internacional como um país onde a performance em questões ambientais, sociais, e de governança (nas esferas pública e privada) é sofrível. É verdade que alguns esforços menos estruturantes são testemunhados, isto inclui desde empresas que buscam legitimidade a duras penas, até as tão faladas ‘leis que não pegam’, pelo histórico déficit de enforcement, ou pela razoabilidade pouco clara. É nessa atmosfera que, especialmente no momento corrente, algumas empresas parecem optar pelo caminho mais curto aparentemente disponível, para pintar de leão um simples gatinho. GreenWashing! Mas felizmente, no Brasil, pressões nos ambientes doméstico e internacional têm compelido indivíduos pesquisadores ao melhor desempenho do seu papel, de maneira a deixar sobre a mesa pesquisas que sejam relevantes para a sociedade. Na área de business isto não é diferente. De fato, para o cidadão pagador de tributos, no Brasil, por vezes não é tarefa trivial perceber a utilidade de certos esforços de pesquisa na área de business.
Em consequência do crescente esforço de pesquisa relevante, espera-se que gradativamente a efetiva performance ESG das companhias seja de amplo conhecimento da sociedade, sem que atitudes meramente cosméticas sejam encaradas como viáveis e/ou compensadoras às pessoas e às empresas simpáticas a esse tipo de conduta néscia. Está, e estará, menos difícil saber quando uma empresa está praticando GreenWashing, ou quando o discurso corporativo não é apenas um grande desperdício de tinta (verde, claro!) e papel.
Se há GreenWashing, suspeita-se que seja pelo fato de existir audiência para ele, como: empresas que se prestam à tarefa de produzir e criar conteúdo abonador para suas contratantes (isso mesmo, terceirização do report de ESG atualmente é negócio), veículos de disseminação de informação que geram caixa ao reverberar certos conteúdos pouco informativos em sua essência, agentes que atuam em nome de investidores que confiam nas decisões dos primeiros (podem não estar cumprindo seu papel), ou até mesmo consumidores que preferem fechar seus olhos e ouvidos à realidade (quantos de nós estão dispostos a abrir mão de certos hábitos sabidamente condenáveis, como o uso de determinados produtos que vão de higiene pessoal até imóveis, passando por automóveis). Em contraste, a crescente disponibilização de informação, pode ser um valioso aliado na promoção da eficiência do mercado, tendo como resultado líquido a promoção de ESG efetivo.
No nível internacional já vemos experiências, como o Greenwatch Project (liderado por Andreas Hoepner) na Irlanda, que consiste no desenvolvimento de métodos em Inteligência Artificial para detectar GreenWashing, de maneira a colaborar para promover os SDGs da ONU. A estratégia irlandesa é chegar, até 2025, ao patamar de liderança mundial na detecção de GreenWashing, similarmente ao desempenho daquele país em detecção de lavagem de dinheiro. Nesse momento, a ferramenta Greenwatch está em fase de prova de conceito, coletando feedback dos primeiros usuários.
No nível doméstico ainda aguardamos esforços coordenados e estruturantes nesse sentido. Torçamos para que as notícias vindouras sejam alvissareiras! Continuemos a produzir pesquisas que tragam luzes sobre o comportamento das empresas, beneficiando a materialidade e a evidência. GreenWashing pode ser, inclusive, resultado de narcisismo dos gestores, colaborando para o cinismo corporativo. As luzes trazidas pela comunidade de pesquisadores pode ser um dos indutores de comportamentos apropriados nas esferas individual e corporativa.
Comentários