Temas relacionados a responsabilidade social corporativa e ESG funcionam como um sinal positivo para os stakeholders de uma empresa, podem sugerir que se trata de uma companhia detentora de cidadania corporativa responsável. No entanto, ESG está se tornando cada vez mais um sinal ambíguo de boa vontade organizacional, já que não é raro constatar que empresas se engajam em ESG puramente por interesse próprio, em vez de intenções genuínas de criar valor compartilhado entre a companhia e a sociedade.
Por sua vez, os stakeholders, ao receberem sinais adicionais que contradigam o sinal positivo de ESG aparentemente intencionado pela empresa, podem reagir de maneira sensivelmente negativa. Por exemplo, a ética moralmente questionável do CEO na mídia influencia negativamente as atribuições de motivação de ESG, o que por sua vez resulta em aumento do cinismo que acaba impactando as intenções, e comportamentos de apoio a práticas de ESG, as quais podem ser chave para a perpetuidade da companhia. Os stakeholders consideram a ética do CEO um sinal importante dos motivos de ESG e evitarão as iniciativas de ESG advindas de CEOs moralmente questionáveis.
O cinismo como escola de pensamento e modo de vida originou-se na Grécia antiga. O termo pode ter vindo de Cynosarges, uma cidade perto de Atenas onde os cínicos tinham sua escola. O primeiro cínico foi Antístenes, originalmente um seguidor de Sócrates, mas foi ofuscado na história por seu aluno Diógenes de Sinope, que ficou famoso por carregar uma lâmpada à luz do dia para ajudá-lo a encontrar um homem honesto. Acreditando que o indivíduo, e não a organização, era a unidade natural da vida humana, os cínicos achavam que mesmo instituições queridas, como religião e governo, eram antinaturais e desnecessárias, merecedoras apenas de desprezo. Os cínicos desprezavam abertamente essas instituições e eram conhecidos por usar exibições dramáticas e obscenas para atrair as pessoas para conversas, nas quais podiam proclamar seus pontos de vista. O humor era a arma favorita dos cínicos, os privilegiados e seu poderoso alvo favorito.
Ao longo dos séculos, os termos “cínico” e “cinismo” ocuparam seu lugar em nossa linguagem, com significados vagamente derivados dos princípios do cinismo. Os dicionários mais lidos convergem para a uma definição aproximada de que um cínico seria “aquele que mostra uma disposição para não acreditar na sinceridade ou na bondade dos motivos e ações humanas, e costuma expressar isso com zombarias e sarcasmos; um crítico desdenhoso”. Pesquisadores contemporâneos assumem que cinismo pode ser visto como uma atitude, que é “uma disposição para responder favorável ou desfavoravelmente a um objeto, pessoa, instituição ou evento”.
O cinismo organizacional é uma atitude negativa em relação à organização à qual o indivíduo serve, e compreende três dimensões: i) a crença de que a organização carece de integridade; ii) afeto negativo para a organização; e iii) tendência a comportamentos depreciativos e críticos em relação à organização que sejam consistentes com essas crenças e sentimentos. O cinismo pode ser funcional (pelo menos até certo ponto) para indivíduos e organizações. No nível individual, as pessoas que invariavelmente acreditam na integridade dos outros provavelmente serão aproveitadas por aqueles que a carecem. Para a organização, os cínicos podem fornecer um controle necessário sobre a tentação de colocar a conveniência acima dos princípios ou a tentação de presumir que o comportamento egoísta ou dissimulado não será detectado. Em sua maneira particular, os cínicos podem atuar como a voz da consciência para a organização, da mesma forma que os cínicos fizeram para sua cultura. Portanto, devemos ver o cinismo organizacional nem como um bem puro nem como um mal puro para as organizações.
Por sua vez, outra caraterística comportamental relevante nesse contexto, o narcisismo, correlaciona-se significativamente com o comportamento de trabalho contraproducente e a eficácia da liderança. A literatura disponível evidencia a importância do transtorno de personalidade narcisista em relação aos resultados no local de trabalho em geral e ao cinismo e à liderança em particular. Evidências substanciais encontradas na literatura de business sugerem existência de impacto do narcisismo do líder no cinismo organizacional.
Tais estudos trazem resultados que permitem supor que existe uma associação positiva entre o narcisismo e o cinismo e a tensão psicológica do líder. No contexto de equipes, os narcisistas podem não ser tão maus líderes, mas as percepções dos indivíduos ao seu redor podem deteriorar-se ao longo do tempo. Além disso, a associação entre desempenho e narcisismo do líder pode tornar-se negativa. Contudo, em certas condições, o narcisismo do líder pode alimentar o desempenho individual. No nível organizacional, os CEOs narcisistas podem acabar sendo até mais orientados para o grupo, mas sem que estejam seguindo objetivos e metas claros.
Nos últimos 20 anos, um número crescente de empresas na América Latina iniciou programas específicos orientados para responder socialmente às comunidades nas quais estão estabelecidas. Apesar da importância desses programas e de seus benefícios, é interessante notar que os países latino-americanos são diferentes dos países desenvolvidos, nos quais a tendência para a responsabilidade social corporativa foi iniciada e desenvolvida. Cabe, portanto, pesquisa ao redor dessa temática.
Comentários