Desde fevereiro de 2020 o mundo tem experimentado algo sem precedentes, a crise induzida pela pandemia de Covid-19. Vários de nós temos, infelizmente, perdido entes queridos de forma repentina. Ao mesmo tempo, testemunhamos a morte de pessoas proeminentes no meio social, desde políticos de alto escalão, até artistas conhecidos. Nessa esfera não estão excluídos os gestores de alto nível das empresas que são alvo de investimento, as quais acabam por desempenhar o papel de pilar de sustentação da riqueza de uns, ou mesmo a subsistência de outros indivíduos.
Ocorre que, na eventualidade da morte de um indivíduo executivo, a empresa pode sofrer fortes consequências, acaso não esteja preparada para esse evento indesejável. E esse efeito pode ser ainda mais severo quando a morte do Chief Executive Officer (CEO) ocorre de maneira inesperada. Foi aparentemente a partir desse raciocínio que uma recente Tese de Doutorado defendida recentemente, de autoria de Bianca P. Sincerre, foi desenvolvida. Estudos desse tipo acabam por contribuir para que as consequências da pandemia possam ser apropriadamente endereçadas no nível da governança das companhias, em um contexto de sua perenidade, aspecto central da discussão ao redor de aspectos ESG.
Conforme a autora, reconhece-se na literatura de Finanças e Contabilidade que o conselho de administração e o CEO desempenham papel fundamental nas operações de negócios e na criação de valor para os acionistas da empresa. No entanto, quando há uma troca repentina, devido, por exemplo, à morte inesperada de um CEO, as questões que podem surgir são: como a empresa mantém seus resultados e qual o impacto de uma morte inesperada na performance da empresa?
Ainda segundo a autora, a principal motivação de seu estudo é compreender essas questões a partir de três perspectivas distintas: i) o impacto de uma morte inesperada no valor da empresa; ii) o impacto de uma morte inesperada no custo de capital da empresa; e iii) o impacto de uma morte inesperada na reação do preço das ações. O primeiro capítulo aborda a questão fundamental do estudo: o impacto no valor da empresa causado pela morte inesperada de um CEO e, como resultado, uma mudança rápida e repentina na definição de um novo CEO. A partir de uma amostra composta por CEOs de empresas públicas dos Estados Unidos, que morreram inesperadamente enquanto estavam no cargo, entre 1950 e 2018, ela identifica 265 CEOs que morreram repentinamente (com a colaboração de pesquisadores do tema na University of Georgia/Estados Unidos). Os resultados sugerem que a morte súbita do CEO tem impacto negativo no Q de Tobin, uma proxy de valor da companhia.
Segundo a autora, o segundo e o terceiro capítulos complementam o primeiro para entender quais outras variáveis poderiam explicar essa queda no valor da empresa após a morte inesperada do CEO. No capítulo 2, ela utiliza a morte súbita do CEO como um experimento natural para analisar seu impacto no custo implícito de capital próprio. Os resultados empíricos revelam que o custo implícito de capital próprio está positivamente associado à morte inesperada do CEO, depois de controlar as medidas de desempenho da empresa e os fatores de risco. No capítulo 3, ela busca entender o efeito da morte inesperada de um CEO no curto prazo por meio de um estudo de eventos que analisa as reações do preço das ações.
Os resultados sugerem ainda que as reações do mercado a esses eventos nas empresas listadas nos EUA tiveram impacto negativo em termos de reações ao preço das ações ao longo do tempo; ela também descobriu que a idade do CEO tem efeito positivo na reação do mercado após uma morte inesperada, indicando um possível entrincheiramento, em que quando um CEO mais velho é mudado repentinamente, é bem-recebido e bem-visto pelo mercado e, como resultado, há um impacto positivo sobre a reação do preço das ações.
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