Aqui compartilho um estudo focado em um tipo bastante interessante de empresas de tecnologia financeira (FinTech), crowdfunding. O Brasil é uma das principais regiões produtoras e consumidoras de música em todo o mundo, e tinha o 11º maior mercado em 2009. Embora 58% do mercado fosse nacional e 90% dos álbuns mais vendidos fossem de músicos locais em 2009, a produção musical pouco difere do mercado mundial, pois poucas gravadoras compõem o mercado local. Como tal, o custo de entrada para músicos iniciantes é alto. Embora haja muitas demandas de artistas brasileiros para financiar suas atividades, o acesso a recursos para iniciantes é escasso. Com efeito, se considerarmos os músicos como empreendedores, no início das suas iniciativas têm dificuldade em atrair capital. 

O problema de acesso a fontes de financiamento específicas é inerente ao estágio inicial dos negócios. Essa dificuldade coloca um fator limitante nas chances de sobrevivência e crescimento do empreendedor, especialmente dada a falta de verdadeiras garantias e o que os potenciais investidores veriam como fluxos de caixa suficientes ou boa reputação. Deve-se notar também que os investidores se deparam com informações assimétricas. Empreendedores que demandam menores quantidades de capital não conseguem acessar capital de risco, private equity ou bancos, que podem estar disponíveis em outras etapas. Portanto, esses empreendedores tendem a encontrar apoio: (1) em seus próprios recursos, (2) em sua família e (3) em seu círculo de amigos próximos.

O crowdfunding tornou-se um método inovador para aproximar investidores e aqueles que requerem capital, especialmente quando estes últimos estão desenvolvendo iniciativas artísticas, culturais, sociais ou de outro tipo. Esse método tem permitido que quantias relativamente pequenas, prometidas por um grande número de pessoas, tornem os negócios viáveis ​​de uma forma mais flexível e menos onerosa, que não requer financiadores intermediários. Como resultado desse fenômeno, surgiram inúmeras plataformas de captação de recursos por meio de crowdfunding. Um exemplo é o Kickstarter (https://www.kickstarter.com/), que atualmente é a maior plataforma do mundo. Kickstarter é um website norte-americano que hospeda projetos, incluindo filmes, jogos, música, design e tecnologia. Desde o seu lançamento em 2009, atraiu mais de R$ 1,5 bilhão de 5,1 milhões de pessoas para financiar mais de 50.000 projetos criativos.

Embora o Banco Mundial e consultores especializados apontem para o rápido crescimento dessa modalidade de financiamento, ela ainda tende a ser altamente concentrada na América do Norte e na Europa (59 e 35% do valor total em todo o mundo, respectivamente) com um valor insignificante em continentes em desenvolvimento. A América do Sul, por exemplo, representou apenas 0,03% desse mercado e essa parcela superou apenas a correspondente para o continente africano, que representou apenas 0,003%. 

Além do impacto social do crowdfunding, e do interesse da mídia financeira e, mais recentemente, da comunidade acadêmica de business, vários governos reconheceram sua relevância para os países em desenvolvimento e, consequentemente, têm dado atenção à regulamentação dessa atividade. Por exemplo, o governo dos Estados Unidos aprovou a legislação intitulada Jumpstart Our Business Startups Act (JOBS Act), que tem o objetivo principal de estimular o acesso de empresas em estágio de crescimento emergente.

Em finanças, os investidores tendem a exigir relativamente mais informações de negócios embrionários, devido ao alto nível de risco ao lidar com novos negócios. Os investidores em startups também tendem a preferir negócios que estejam fisicamente mais próximos (home bias), pois são motivados pelo desejo de reduzir a assimetria de informação. No entanto, o crowdfunding permite que um número ilimitado de pessoas geograficamente dispersas seja alcançado com o objetivo de obter pequenas quantias de dinheiro para financiar um projeto ou empreendimento. Também permite que as atividades de negócios sejam monitoradas à medida que avançam, e esse monitoramento pode ocorrer em grandes distâncias, o que reduzirá as assimetrias de informação. Além disso, em seu modo de promessas, empreendedores criativos como músicos podem superar os problemas do capitalismo de mercado como um mecanismo de entrega.

Nosso artigo de pesquisa examina as associações que existem entre distância geográfica, fatores aspectos socioeconômicos e os aportes realizados em projetos financiados por crowdfunding no Brasil. Para tanto, os dados analisados ​​referem-se a 1835 promessas de dez projetos de produção musical julgados como exitosos em uma plataforma de crowdfunding.