Um padrão global de relatórios que busca medir “emissões de carbono evitadas” está ganhando popularidade, apesar de sua complexidade. Os Escopos 1, 2 e 3, definidos pelo Greenhouse Gas Protocol, são os padrões contábeis usados pela maioria das empresas e órgãos governamentais para medir as emissões diretas e indiretas de carbono. As maiores empresas devem incluir dados para os Escopos 1 e 2 em seus relatórios anuais. A origem das emissões pode ser categorizada nos Escopos 1, 2, e 3. Por `Escopo 1′ entende-se emissões diretas, e.g. as geradas pela caldeira de uma fábrica; por `Escopo 2′ entende-se emissões indiretas, provenientes do consumo de energia; e por `Escopo 3′ entende-se emissões indiretas, mas que incluem toda a cadeia de valor da empresa, como transporte de produtos em frotas terceirizadas.
Contudo, nos últimos anos uma nova métrica voluntária para emissões evitadas, conhecida como Escopo 4, ganhou popularidade. Abrange as reduções de emissões que “ocorrem fora do ciclo de vida de um produto ou cadeia de valor, mas como resultado do uso desse produto”, diz o World Resources Institute (WRI), que estabeleceu o GHG Protocol. Algumas empresas já incluem emissões evitadas em seus relatórios. Por exemplo, a Aveva, uma empresa de tecnologia FTSE 100, planeja desenvolver uma linha de referência e uma meta para emissões evitadas pelo cliente “às vezes chamadas de Escopo 4” até 2025, segundo seu relatório anual de 2022. A Pacific Gas & Electric Company da América divulgou um relatório de estratégia climática que se referia ao ‘Escopo 4’, enquanto a Telefonica da Espanha e a Renew Energy Global da Índia estão entre os grupos que divulgaram números específicos para emissões evitadas. Em 2019, o WRI introduziu uma estrutura para abranger a medição e divulgação de emissões de GEE decorrentes de um produto ou serviço, incluindo emissões evitadas.
Todas as 350 empresas monitoradas pelo WRI apresentaram dados de emissões evitadas medindo “a diferença nas emissões totais de GEE do ciclo de vida entre o produto de uma empresa e algum produto alternativo que desempenha papel equivalente”. Players do mercado têm assumido a premissa de que relatar as emissões evitadas pode conferir a uma empresa vantagem competitiva, acaso ela seja capaz de mostrar que seus produtos ou serviços são os mais ecologicamente corretos.
Porém, a consideração de emissões evitadas revela-se não trivial. A dificuldade de medir as emissões evitadas pode ser uma barreira. Isto é, embora seja possível medir o produto ou serviço em termos de pegada e emissões de carbono associadas ao seu uso, como seria viabilizada e comparação com o restante dos produtos no mercado passa a ser algo a ser endereçado. Novos produtos chegam ao mercado o tempo todo, portanto, manter-se atualizado parece ser um desafio. Em adição, as empresas geralmente têm acesso apenas às médias do setor, o que dificulta a classificação.
Experts do mercado têm afirmado que o setor de logística é uma área na qual o Escopo 4 vem ganhando força, à medida que as empresas de transporte competem para relatar a eficiência de combustível dos caminhões e, assim, reduzir a pegada de carbono das entregas. Apesar dos benefícios de ajudar os clientes a reduzir as emissões por meio de produtos e serviços, especialistas dizem que stakeholders mais céticos podem ver as emissões evitadas como greenwash, especialmente se uma empresa apresentar esses números com mais destaque do que as emissões dos Escopos 1, 2 e 3. Os compromissos assumidos publicamente por empresas, cidades e Estados tem sido alvo de atenção ao redor do mundo. A esse respeito, a questão da regulação tem sido uma constante na pauta. Veja, por exemplo, o relatório intitulado ‘Integrity Matters: Net Zero Commitments by Businesses, Financial
Institutions, Cities and Regions‘, que se apresenta como um endosso político, ainda que não necessariamente implique em regulação dos compromissos, em nível internacional.
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